Na Folha, Viana fala do ‘mais matemático dos estilistas’

Crédito: Toshihiro Gamo | Flickr
Reprodução da coluna de Marcelo Viana na Folha de S. Paulo
O japonês Issey Miyake, o mais matemático dos grandes estilistas, buscou inspiração na geometria para encontrar soluções inovadoras e estéticas para um dos problemas mais antigos da civilização: como melhor cobrir um corpo humano, e suas curvas, com um tecido plano?
O fato de que esse problema é inerentemente matemático pode parecer surpreendente, mas não passou desapercebido a grandes matemáticos da história. Já em 1770, Leonhard Euler se perguntava “quais superfícies podem ser cobertas com papel, podendo dobrar, mas não esticar nem rasgar?”
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Em trabalho publicado nos anais da Academia de Ciências de São Petersburgo, chamou tais superfícies de “desdobráveis”, apontando que o cilindro e o cone são desdobráveis, mas a esfera não é. É o problema fundamental da cartografia: não é possível representar a superfície esférica da Terra na forma de um mapa plano sem “esticar” ou “rasgar” a imagem.
Não é, portanto, um acaso que muitos dos modelos mais espetaculares de Miyake tenham sido realizados com tecidos plissados.
A teoria iniciada por Euler foi continuada um século depois por Pafnuty Chebyshev, um dos maiores matemáticos russos de todos os tempos, em trabalho de 1878 intitulado “Sobre o corte de roupas”. Uma evolução importante é que, no lugar de papel, ele pensou em roupas feitas com tecido, que tem propriedades bastante diferentes e lhe proporcionou encontrar novas soluções para o problema.